segunda-feira, 26 de abril de 2010

Comendo do bom e do melhor

Gosta de uma fodinha quente? Ou é mais chegado a um tique-taque no redondo? São opções, na certa gostosas, no cardápio do restaurante Os Telhadinhos, situado no Minho, Portugal. A informação foi pinçada no Blogstraquis, do Moacir Japiassu:

Cardápio do restaurante Os Telhadinhos, de Ponte de Lima, Minho:

- Fodinhas quentes (pataniscas de bacalhau)
- Escarrapachadas quentes (codornizes)
- Biquinhos de amor (caprichos do mar)
- Tique-taques no Redondo (coração de frango no prato)
- Vanico de Ronca (orelha de porco)
- Perigoso na Racha (Fígado de cebolada no meio do pão)
- Corno na Racha (prego no pão)
- Com Sola na Racha (panado no pão)
- Mamadeiras Quentes (coxas de frango)
- Mentirosos Quentes (bolinhos de bacalhau)
- Corninhos de Marcha Lenta (caracóis)
- Chupões de Molho Verde (polvo em molho verde)
- Cu de Galinha Recheado (atum, cebola e salsa)
- Saquinho Cheio (rissol)
- Charuto da Avó (pão misto com salsicha)
- Cociguinhas feitas à mão (punheta de bacalhau)
- Meia Queca (meia tigela de vinho)
- Queca Cheia (tigela cheia de vinho)

As fodinhas podem ser embrulhadas (no guardanapo), na racha (pão) ou no redondo (prato).
Todo o menu pode ser acompanhado por uma Putinha(malguinha) de "bom vinho de lavrador", garantiu a proprietária Márcia Abreu.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Salve Brasília! Salvemo-la...

Millôr Fernandes havia dito, n'A Bíblia do Caos: "Brasília é o desnecessário tornado irreversível". Acho e não acho. Dou a Brasília meu repúdio pelos danos que ela causou ao exercício do poder político entre nós, mas dou-lhe, ao mesmo tempo, minha paixão por aquele projeto urbanístico onde eu adoraria viver, talvez um olhar viciado de cadeirante, iludido pela planura e pelos amplos espaços públicos.

Há exatos 50 anos, lembro-me, menino, excitado com aquele dia da inauguração de uma cidade meio maluca que ocupava todos os assuntos e revistas ilustradas, como O Cruzeiro e Manchete, das quais eu era viciado leitor. Arquitetura revolucionária, Juscelino, festas badaladas da mais fina elite, lamúrias por um Rio de Janeiro usurpado em seus sentidos e vocações, cenas de um cerrado então exuberante, entrevistas com brasileiros que haviam acorrido de todos os rincões em busca da nova vida que a cidade prometia. Entre os tantos encantos da data, um, no entanto, amarrava especialmente minha atenção.

A TV Itacolomi (dos Diários e Emissoras Associados), canal 4, prometera integrar Minas Gerais ao link para a primeira transmissão de um evento que se ambicionava mostrar, de modo simultâneo, a pontos diversos de um país então imenso, por inalcançável à mesma imagem televisiva. Num ousado projeto, daqueles à la Chatô, aviões ficariam sobrevoando áreas diferentes no espaço aéreo entre o Planalto Central e as principais capitais do sudeste. O sinal da transmissão passaria por antenas situadas nesses aviões até pousar nos precários links já existentes. Vai dar certo? Chega, ou não chega? De repente, imagens meio piscantes, naquele preto e branco embaçado, inundaram nossas casas. Brasília estava sendo inaugurada ao vivo. Era a emocionante vitória de uma modernidade que desde sempre me envenenou.

Brasília vingou como cidade e como monumento tombado pela admiração mundial. Mostrou-se profundamente brasileira ao gestar nos seus entornos um cinturão de pobreza, mesmo de miséria, depósito daqueles a quem se reservou só despojos do sonho imenso. Nos rastros de sua breve história se arrasta uma dúvida insanável: o que teria significado a nova capital para nossa convivência política, para nossa vida republicana, se metade de sua existência não tivesse se passado sob os tacões da ditadura militar, com suas regras tão próprias para a organização do poder, para a distribuição de benesses e para cevar "lideranças" viciadas e carcomidas?

Penso Brasília como sonho e pesadelo. Linda sob aquele céu azul, emoldurada pelo infinito de seus horizontes, nela floresceram fartos espaços sombrios, aparentemente adequados à política safada e aos negócios escusos. O que lhe falta, não como cidade, mas como capital do Brasil, já que esse era seu desenhado destino? Porque, ali, parte preponderante dos agentes políticos sentem-se tão desobrigados dos temores devidos à pressão popular numa democracia que se queira moderna? Quando ela se tornar secular, quase adulta, os de vocês que porventura ainda pelejarem por aqui, talvez tenham arrancado dessa Brasília de todos nós alguma resposta, quem dera até alguma transformação positiva. Por enquanto, creio, o melhor a fazer é amá-la com cívica paixão, é ficar do bom lado nas lutas que ali se derem. Parabéns!