sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Da falsa arte de se desempapelar...


Embora a essa altura da vida já não me lembre se aprendi tal lição de um sábio ou de uma sabiá, repito aqui, convicto, que cada homem é uma ilha.
No meu caso, sou, e sempre fui, uma ilha cercada de papel por todos os lados: jornais, mais ou menos amarelados, revistas diversas, de interesses diversos, livros, bloquinhos, boletos, contas, recortes, e muitos, muitos outros papéis sobre os quais a memória se fez incapaz de revelar o que fazem ali. Nada de anormal para tantos de meu perfil e geração.


O que quero contar é que temo uma crise de identidade, que pressinto instalando-se. Ontem, deixei de receber o Estado de Minas diário, o último dos jornais que ainda não haviam migrado para o meu iPad. Ele agora co-habita, em mansa virtualidade, com a Folha, o JB online, o Le Monde, o El País, além daqueles em que dou bicadas (acho que foi a sabiá!), como o NY Times, percorrido com dificuldades da ignorância, e outros que tais.


Em papel, agora, só assino uns jornais de periodicidade dilatada, revistas várias (embora algo como um terço delas, como Veja e Carta Capital, só borbulhem nas telinhas mágicas), panfletos de Ongs e derivados, coisas assim.


Temo que tal diminuição do cerco, tal diminuição da papelada, atraída, via wi-fi ou 3G, para o buraco negro da virtualidade, temo que essas ondas acabem por me libertar, e eu não saiba o que fazer dessa liberdade.


Sabedoria minha, grande ilustração? Perguntem à minha mulher, a meus amigos, à minha terapeuta, e eles serão unânimes: essa vida empapelada é pura mania, loucura mansa. Se juntar papéis fosse sabedoria, os catadores de recicláveis (como ora se diz) seriam mestres. Mas quem, em vã consciência, ousa afirmar que eles não o sejam. Vidinha mais complicada, putz!